Conclusão do meu TCC: A CRIAÇÃO DA CSN E VOLTA REDONDA (UMA CIDADE-EMPRESA) NO CONTEXTO ESTADONOVISTA.
O Estado Novo, regime
autoritário presidido por Getúlio Vargas a partir de 1937, é um momento
histórico brasileiro no qual o governante entra em novas relações com o
operariado nacional, regulamentando leis trabalhistas e garantindo direitos
anteriormente reivindicados. A nova regulamentação redefine as relações entre
trabalho, capital e Estado, ao liberar o capital de alguma responsabilidade em
relação ao trabalhador. É o caso do salário mínimo, por exemplo, que
viabilizaria independência e provisão garantida. Entretanto, o Estado,
concernentemente ao custo de reprodução da força de trabalho, assume certos itens
como assistência médica e aposentadoria. Tais transformações vêm ocorrendo
desde a “Revolução” de 1930, bem como a substituição das formas particulares
das condições gerais da produção para formas coletivas via intervenção direta
ou indireta do Estado.
O ingresso do Brasil nos
rumos da industrialização, através da produção de insumos básicos nas décadas
de 40 e 50, representou um salto significativo para o país, ampliando o papel
da siderurgia e promovendo-a da condição de solucionadora do problema de transporte
interno (ferrovias), na qual antes estava inserida.
É tempo de mutação e tais
instâncias, no que tange a economia brasileira, originará uma cidade-empresa
dissociada da pessoa física (empresário) em prol de uma conexão nova
consolidada no papel institucional da empresa. É característica o caso da
Companhia Siderúrgica Nacional, cuja construção simultânea da usina e da cidade
em áreas de três fazendas em Volta Redonda, está em consonância com a nova fase
do país sob a égide do progresso. O então megaprojeto vai cumprir o papel
símbolo da compatibilidade entre as necessidades da acumulação capitalista, bem
como a melhoria das condições de vida dos trabalhadores.
A CSN, que entre os anos de
1941 e 1945 constrói simultaneamente a usina e a cidade, cujo plano
urbanístico, de alto padrão, reproduz na estruturação urbana a hierarquia
funcional da usina, cria espaços estratificados por categoria funcional e faixa
salarial. A expansão, planejada ad continuum, possibilita desenfreada
captação de mão-de-obra, causa donde promana o fator de crescimento
populacional: de 1940 o cômputo era de 3.000 pessoas, em 1950 haverá um
recrudescimento para 36.000 habitantes. Como conseqüência, uma outra “cidade”
pobre e não planejada (fora da área de controle da CSN) cresce
concomitantemente. Este último dado e o fato de Volta Redonda em 1980 passar à
categoria de município, bem como seu crescimento populacional, no entanto não
fazem parte do foco desse trabalho.
Elucubrar Volta Redonda – um
exemplo clássico de cidade-empresa, segundo Rosélia Piquet – nascida e
unicamente possibilitada em função do megaprojeto que a gerou, como outra coisa
qualquer diferente disso é laborar no erro e forcejar pela irrealidade. Ao
fazer o mapeamento das relações entre as irmãs siamesas desde os primórdios de
sua gestação, nada nos permite desvinculá-las uma da outra. A CSN, dado sua
magnitude desde a planta só será possível, concluímos, com o suporte vetorial
analisado no parágrafo anterior.
Simultaneamente, Volta
Redonda tem sua relevância graças ao aparato da usina, cujo controle,
imaginário, influência, regras, etc. vão permear a cidade a partir de ditames
via fábrica. Para ambos impera uma recíproca que é verdadeira.
Tal concentração espacial
foi um laboratório por excelência para Vargas e seus ideólogos, e mesmo durante
a ditadura militar, quando, guardadas as diferenças que lhes são próprias, é
possível a identificação do autoritarismo mascarado pelo discurso do progresso
e da prosperidade nacional.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BEDÊ, Waldyr. Volta Redonda na Era Vargas
(1941 – 1964). Volta Redonda: SMC/PMVR, 2004.
CARVALHO, José Murilo de. Pequena história
da siderurgia no Brasil. In: MONTEIRO, Geraldo Tadeu Moreira. Sindicato dos
metalúrgicos de Volta Redonda: 50 anos brasileiros. Rio de Janeiro: FSB
Comunicações, 1995.
LOPES, Alberto Costa. A aventura da cidade
industrial de Tony Garnier em Volta Redonda. Rio de Janeiro: UFRJ,
1993. (Dissertação de Mestrado)
PENNA, Lincoln de Abreu. República
Brasileira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.
PIQUET, Rosélia. Cidade-empresa: presença
na paisagem urbana brasileira. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor, 1998.
SAES, Décio. A República do Capital:
capitalismo e processo político no Brasil. São Paulo: Boitempo, 2001.
SKIDMORE, Thomas E. Brasil: de Getúlio a
Castelo Branco, 1930 – 1964. 7 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982.
JORNAL O GLOBO (Agosto de 2004).
Escrito sabe lá Deus sob que condições mentais, no ano de 2010, depois da recusa da coordenação em aceitar meu pedido para que fosse trancada a matrícula do Curso de Graduação em História. Foi um dos mais importantes e positivos "nãos" que recebi na vida. As possíveis falhas encontradas no trabalho, se explicam em razão do esgotamento físico e mental, que comprometia o lado psíquico, por que passava à época. Se há um triunfo nisso, precisa ser tributado à Razão, a qual, bombardeada pelo menos desde Nietzsche, ainda impera como o que norteia a compreensão dos assuntos desta Terra, os visíveis e os invisíveis, sendo ela quem traz a palavra final.
Eleandro Madureira
Volta Redonda
04 X 2013
Volta Redonda
04 X 2013